“E se todo dia fosse Natal”: entrevista com autora Maria Amália Camargo

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Há quem diga que o melhor das festas é esperar por elas, mas qual criança nunca desejou que a época mais mágica do ano durasse um pouquinho mais?
Neste Natal, essa vontade virou história. No livro personalizado “E se todo dia fosse Natal”, cada criança se transforma em protagonista de uma aventura para descobrir a resposta dessa curiosa pergunta.

No post de hoje entrevistamos a escritora de livros infantojuvenis Maria Amália Camargo, autora deste lançamento da Dentro da História.  Após se formar em Letras na USP e escolher que queria trabalhar com crianças, ela publicou seu primeiro livro em 2006. Hoje, já tem mais de 20 títulos publicados e vive sonhando acordada com novas histórias.

A seguir, Maria Amália conta como foi escrever seu primeiro livro personalizado, e compartilha com a gente a sua forma de enxergar a literatura infantil e a importância das histórias para as crianças hoje.

Seu pequeno descobrindo o espírito Natalino
  • Nevou no Natal
  • E se todo dia fosse Natal?
  • Colorindo o Natal

1) Você é formada em italiano e em português pela USP. Como decidiu se dedicar à escrita?

Maria Amália Camargo: Eu me lembro de começar a criar histórias quando minha família se mudou de Santos para São Paulo. Tinha oito anos e fomos morar no apartamento que era da minha bisavó. Em cada canto havia uma velha-novidade. Entre elas, uma máquina de escrever, onde eu passava horas batendo tecla até encher as folhas de papel. Ainda não tinha feito amigos na cidade e estávamos no período de férias. Então eu brincava com os personagens que inventava. Minha mãe lia todos os textos e adorava. Ela passou pelos menos uns vinte anos dizendo que eu deveria voltar a escrever.

Na escola, tive professores de Língua Portuguesa e de Literatura que eram encantadores de serpente. Esse foi um dos motivos da escolha em cursar Letras. Depois me formei e não sabia muito bem o que fazer com o diploma, pois não queria dar aula – como boa parte dos meus amigos da faculdade. Então resolvi ouvir minha mãe, criei coragem e voltei a escrever. E até hoje acontece como no passado: passo horas e horas escrevendo e brincando com os personagens que invento. 

2) Você teve experiências com arte-educação antes de se tornar escritora. De que forma isso influencia suas histórias e a forma como enxerga a literatura infantil?

Maria Amália: A arte-educação me colocou em contato com o público infantil e com o meu lado criança. Quando entrei no Museu de Arte Contemporânea da USP estava nos últimos anos da faculdade. Como todo estagiário, eu fazia de tudo um pouco lá: apontava lápis, passava horas na biblioteca pesquisando sobre os artistas do acervo, escrevia textos para o catálogo da exposição didática, recebia grupos de escolas… 

Todos os dias era um aprendizado. Com as visitas das escolas, aprendi a importância de ouvir as crianças. Quando elas percebem que conquistaram seu espaço, sentem-se acolhidas para questionar, expor opiniões, expressar emoções… E um colega puxa o outro. De repente até os mais tímidos estão falando.

A literatura infantil é como uma visita guiada ao museu: a narrativa conduz a criança a uma abertura do pensamento, direciona o olhar para a linguagem escrita e visual. Além de permitir que ela questione o que está sendo apresentado. 

O texto pode provocar uma série de perguntas e fazer com que a criança vá atrás das respostas. Seja perguntando para os pais ou professores ou, quando mais velhas, consultando outros livros e a internet. Dessa forma também não subestimamos a inteligência das crianças entregando um texto pronto, que não instiga a curiosidade delas.

3) Você tem mais de 20 livros publicados desde 2006. O que considera essencial em uma boa história, seja ela para crianças ou “adultos que não cresceram”?

Maria Amália: Uma boa história infantil agrada tanto ao público infantil quanto ao adulto. Ambos farão uma leitura diferente, claro. Um bom texto sempre carrega uma história escondida nas entrelinhas. É essa a história que o adulto lê e aprecia.

Uma coisa óbvia é que uma história precisa ter começo, meio e fim. Digo isso porque muitas vezes abro um livro com uma história que tem início e o final ainda no meio. Ou seja, são textos que vão do nada ao lugar nenhum. 

Talvez por conta disso muitas pessoas ainda enxerguem a literatura infantil como um gênero menor. 

4) O livro “E se todo dia fosse Natal” tem um diferencial em relação às suas outras obras, que é a personalização, com a inclusão da criança como personagem da narrativa. Qual foi a influência dessa característica para a criação da história?

Livro Personalizado

Maria Amália: Para essa história precisei criar um personagem que movimentasse a narrativa e não fosse apenas um observador.

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O desafio maior foi o de trabalhar com um protagonista que eu não inventei. É um personagem que existe de verdade e eu ainda não conheço. Pode ser menina ou menino e ter tantas carinhas… A cada página eu acabava imaginando alguém diferente. Muitas vezes me peguei pensando: será que o leitor vai se identificar com essa cena?   

5) O Natal é uma época que costuma ficar marcada nas memórias de infância. Como a história aproveita os elementos típicos desta data?

Maria Amália: Procurei incluir boa parte dos elementos do repertório natalino: renas, trenó, boneco de neve, a tradição dos presentes ao pé da árvore, as comidas tão aguardadas… E, assim, fazer com que o leitor-personagem interagisse com eles de uma forma divertida. 

6) E você, gostaria que fosse Natal todo dia?

Maria Amália: Hum… Eu não gostaria não. Se pudesse escolher, gostaria que todo o dia fosse… o dia da pizza! Pensando bem, acho que a graça é vivermos sempre um dia diferente do outro.

7) Qual é o papel da literatura na infância?

Maria Amália: A literatura é essencial em todas as épocas da vida. Sobretudo quando o leitor ainda é pequeno, o contato com os livros – além de ajudar na fluência da leitura, no conhecimento da grafia das palavras e no enriquecimento do vocabulário – é um passaporte para quem quer viajar sem sair do lugar. 

A literatura dá à criança a possibilidade de desenvolver um senso crítico. Todas as formas de arte existem para fazer pensar, refletir. A literatura infanto-juvenil ajuda o leitor a discernir o certo do errado, o justo do injusto. Sobretudo ajuda a preparar a criança para situações que ela virá a enfrentar no futuro. 

8) Que dicas você daria para as famílias que querem incentivar nas crianças o gosto pela leitura desde cedo?

Maria Amália: Antes de qualquer coisa: tenham livros em casa! E ao alcance das crianças para que elas possam manuseá-los sempre que der vontade. Meu pai costumava me mostrar livros de arte. Minha mãe, livros sobre bichos. Maravilhas e Mistérios do Mundo Animal, lembro do título. Em meio a tantos livros, eu e meu irmão líamos muito gibi.

Todo o tipo de leitura, desde que diversificado, é válido. O livro, assim como o brinquedo, é um objeto que deve fazer parte do dia-a-dia dos pequenos. 

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Leiam perto dos seus filhos, netos, sobrinhos, afilhados. Contem histórias para eles antes de dormir, no caminho da escola, na hora das refeições. Quando os pais se envolvem na atividade viram encantadores de serpente. Duvido que a criança não fique atenta a todos os detalhes. Com certeza esse será um momento de diversão como tantos outros. 

Outra dica é frequentar livrarias e bibliotecas para os pequenos se familiarizarem com o ambiente. Temos exemplos de bibliotecas públicas acolhedoras com uma programação bem diversificada para as famílias: contação de histórias, shows, peças de teatro… 

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Maria Amália Camargo é formada em Letras pela USP, escritora de livros infantojuvenis, avoada, tradutora e rabiscadeira.

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