Pesquisa mostra os benefícios da leitura em voz alta para as crianças

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Muito antes de se alfabetizar, as crianças já aprendem e se desenvolvem a linguagem a partir da leitura em voz alta feita pelos adultos.

O desenvolvimento da linguagem na infância é um processo complexo e longo, que acontece desde as primeiras interações do bebê e vai se construindo com todas as diferentes experiências com a língua. As crianças aprendem a falar a partir daquilo que escutam, das palavras, expressões e formas de comunicação de quem está à sua volta. Ou seja,  os adultos são parte essencial do aprendizado da linguagem na infância. 

Porém, no dia a dia, a nossa linguagem é limitada, e ainda mais restrita quando nos dirigimos aos pequenos. Então, como podemos garantir que as crianças tenham experiências de linguagem enriquecedoras, para que desenvolvam suas habilidades de comunicação da melhor forma possível? 

Pesquisadoras de Barcelona realizaram um estudo sobre o papel da leitura em voz alta dos adultos para as crianças e confirmaram que, na infância, ouvir histórias escritas proporciona aprendizados que não acontecem normalmente no cotidiano. Saiba mais a seguir!

“Aprender a partir da leitura em voz alta do adulto”

Esse é o título do artigo escrito pelas pesquisadoras Ana Teberosky e Angelica Sepúlveda, da Universidade de Barcelona. O estudo teve como objetivo analisar a prática da leitura em voz alta e seus efeitos nas crianças, e nós conversamos com uma das autoras sobre as principais descobertas.

Angelica Sepúlveda iniciou sua trajetória acadêmica no campo da fonoaudiologia na Universidade Nacional da Colômbia, especializando-se em Psicologia Educativa com mestrado e doutorado na Universidade de Barcelona. Com pesquisas sobre o desenvolvimento da comunicação oral, da leitura e da escrita, Angelica está há 7 anos no Brasil e colabora no desenvolvimento de projetos de pesquisa e inovação educativa no Laboratório da Educação, que realiza ações voltadas a enriquecer e qualificar a linguagem na infância.

O papel dos adultos no desenvolvimento da linguagem

Para Angelica, o desenvolvimento da linguagem na infância é um processo fascinante: a criança está imersa em um contínuo de interações e vai conseguindo, pouco a pouco, compreender o que é a língua e para que serve. Usa a linguagem para pedir água, comida, para brincar, tanto no contato com adultos como com outras crianças.

Para esse aprendizado, importam muito a quantidade de interações, assim como a qualidade delas. A pesquisa de Angelica e Ana cita um estudo que mostra que, no dia a dia, a maioria das expressões não oferecem uma grande riqueza linguística e nem exigem produção da parte da criança.

“Só 15% de tudo que se fala para crianças tem construções canônicas, ou seja, com sujeito, verbo e objeto, que é uma estrutura completa da língua. Isso é muito pouco. Na interação cotidiana a nossa linguagem é muito limitada, então temos que tomar uma decisão consciente de enriquecer o que estamos oferecendo de experiência linguística para as crianças.”, diz Angelica.

Benefícios exclusivos dos livros

São numerosos os estudos que comprovam que a literatura infantil é uma forma de contato com a linguagem que proporciona aprendizados que vão além das experiências cotidianas da criança. 

Em seu artigo, Angelica cita o pesquisador Gordon Wells, que estudou o que acontece com crianças que têm a oportunidade de escutar a leitura de livros. A conclusão é que elas têm um vocabulário mais rico, desenvolvem uma linguagem mais complexa e são capazes de fazer narrações mais elaboradas.

Além disso, essas crianças tiveram mais facilidade ao aprender a ler e escrever, desenvolvendo melhor a compreensão de leitura e consequentemente apresentando melhor desempenho escolar.

Muitas pesquisas posteriores seguem comprovando esses efeitos positivos. Em Barcelona, Angelica acompanhou os efeitos da leitura na produção de textos escritos, e concluiu que as crianças conseguem escrever textos mais longos e se apropriam com mais facilidade dos códigos das convenções da escrita. 

“Os livros ajudam não só na aquisição da linguagem oral como também da escrita, e não apenas na compreensão leitura, como também na produção.”, explica a pesquisadora.

Por que a leitura em voz alta é tão importante?

Segundo Angelica, esperar a criança se alfabetizar para começar a ter contato com a literatura é desperdiçar tempo e oportunidades muito valiosas.  

“Quando a criança ouve histórias, tem a oportunidade de ler muitos textos antes de ser um leitor autônomo e isso faz toda a diferença.”, defende. 

A criança pequena que ouve a leitura em voz alta também está, de certa forma, lendo. No sentido de que escuta a linguagem escrita e compreende aquilo que está sendo lido. 

As crianças exercitam também a aprendizagem por meio da repetição e da imitação. Assim como gostam de ver várias vezes um vídeo ou ouvir várias vezes uma música, também pedem para escutar muitas vezes a mesma história. 

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E mesmo no caso de crianças mais velhas que já sabem ler sozinhas, ainda é importante aproveitar a leitura em voz alta dos adultos. Isso porque elas estarão observando um leitor mais experiente e aprendendo com ele, sempre ganhando a partir dessa interação. 

Como tornar a experiência de leitura mais rica?

Segundo a experiência de Angelica com práticas da linguagem na infância, dois pontos são importantes para enriquecer o repertório das crianças e estimular uma relação positiva com a leitura: a diversidade e a naturalidade dessas experiências. Ou seja, criar oportunidades variadas de contato com livros e textos, e de forma apropriada, que não seja obrigatória e nem desagradável para as crianças. 

“Os bons livros de literatura infantil são feitos para uma audiência que chamamos de dual:  para os adultos que os selecionam e leem em voz alta, e para as crianças. Diante de um bom livro da literatura, tanto o adulto como a criança têm uma boa experiencia literária.”, defende a pesquisadora.

Veja a seguir dicas para tornar a experiência de leitura em voz alta ainda mais rica:

1. Tenha disponibilidade

Não é bom começar uma leitura se precisar terminá-la em 10 minutos por causa de outro compromisso. Separe um momento especial para ler para a criança, em que possa estar 100% presente naquela interação.

2. Entregue-se à história:

Se o adulto está disposto para a leitura, terá uma interação autêntica com o texto: vai se surpreender, dar risada se for engraçado, ou então ficar sério, reagindo de forma autêntica. Isso faz toda a diferença para a criança se interessar pela história também.

3. Cuidado com interrupções:

A leitura não precisa ser uma aula. Evite ficar parando a história para dar explicações, a não ser que a criança pergunte. Isso permite que o leitor vá estabelecendo as relações por conta própria.

4. Incentive conversas naturais:

Após a leitura, converse com a criança sobre a história. Conte para ela suas impressões, o que mais gostou ou não, e escute o que ela tem a dizer.

5. Reler, reler e reler:

Uma experiência de leitura nunca é igual a outra. Ler o mesmo livro várias vezes terá diferentes efeitos sobre a criança, principalmente ao longo do tempo, promovendo novas reflexões e aprendizados. 

6. Explore novos formatos:

Quanto maior a diversidade de experiências linguísticas a que a criança tiver acesso, melhor. As plataformas digitais oferecem novas formas de ouvir leituras, como vídeos e podcasts de contação de histórias. Normalmente são leituras feitas por especialistas, com entonações e gestos diferenciados que talvez não aconteçam nas leituras em família, e enriquecem ainda mais o repertório da criança.

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Angelica Sepúlveda

Fonoaudióloga da Universidade Nacional de Colômbia. Doutora em Psicologia da Educação pela Universidade de Barcelona. Colaboradora do Laboratório de Educação (ONG, São Paulo).

Este texto foi escolhido para recomendação na campanha sobre a importância da leitura na infância da editora educativa Twinkl.


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