OMUNGA: impacto social por meio da leitura e formação de professores

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A OMUNGA é um empreendimento de impacto social que tem o propósito de fortalecer a educação em regiões vulneráveis e isoladas do Brasil.

Hoje, parte do valor das assinaturas do Clube Dentro da História é revertida para a instituição. As doações contribuem para que a OMUNGA invista na construção de bibliotecas e na formação de professores em cidades no sertão do Nordeste e na região amazônica.

Entrevistamos o Roberto Pascoal, fundador da OMUNGA, que contou sobre a origem do projeto, o seu propósito e os impactos da sua atuação nessas regiões do Brasil onde poucas ou nenhuma outra organização social atua. 

Leia a entrevista completa a seguir:

Dentro da História: Como você se tornou um empreendedor social, que para você não é só um trabalho, mas sim um projeto de vida?

Roberto Pascoal: Eu trabalhei durante muito tempo na área da comunicação. Era gerente comercial de rádios do segmento jovem em Joinville (SC) com passagem por Florianópolis. Rádios como a Transamérica FM, Jovem Pan FM e Rádio Atlântida FM. Naquela época eu era muito feliz. Eu acreditava na comunicação social para influenciar positivamente a vida de milhares de jovens. Mas chegou uma hora que me senti fora de contexto, desconectado de mundo e sobretudo, de mim mesmo. Era uma sensação totalmente nova e eu não sabia o que fazer para me sentir preenchido. Mas sabia que era necessário mudar.

Roberto Pascoal com crianças em Luanda, Angola

Por isso, parti para um período sabático de 4 anos na África e depois mais um ano por cidades de extrema vulnerabilidade no Brasil, no sertão nordestino especificamente. Decidi me desconectar do meu porto seguro, das minhas certezas, olhar para dentro em outro cenário para iniciar a construção de uma nova vida. Um vida na qual eu me sentisse, queria ter uma vida com mais significância, também queria viver com uma sensação de liberdade (inclusive financeira), queria que vida e trabalho me gerassem plenitude, paz e felicidade. Comecei a entender que eu precisava de um novo propósito.

DDH: O que significa OMUNGA, o nome escolhido para representar esse propósito?

Roberto: OMUNGA significa unidade, união, conjunto em Umbundo, dialeto de Angola. A ideia de levar mais educação para regiões distante ou isoladas, onde poucas ou nenhuma organização social atua, nasceu em Angola. Assim, queria que o nome fosse angolano ou africano. Um amigo angolano de línguas nativas me ajudou. Queria um nome com significância e com pronúncia fácil. Quando ele me disse que OMUNGA queria dizer “pessoas juntas”, em comunhão, pensei: Perfeito. Encontrei!

DDH: Por que focar na leitura? Quais os motivos de a OMUNGA trabalhar construindo bibliotecas?

Roberto: Em regiões onde a OMUNGA atua, regiões distantes ou isoladas, onde poucas ou nenhuma organização social atua, o livro é um instrumento de liberdade, oportunidade e conexão com esse mundo que eu e você conhecemos tão bem. Mas crianças e famílias que vivem nesse contexto, não fazem ideia que esse “outro mundo” existe. Muitos nem sabem o que é uma profissão, que é possível ser professor, secretária, advogados, por exemplo.

Incentivo à leitura através da construção de bibliotecas

Estamos habituados a encontrar crianças que nunca viram um livro na vida e quando elas tem acesso é libertador. Vai além do hábito da leitura que por si só, já é algo transformador. Por isso, a OMUNGA viabiliza a construção de bibliotecas e formações continuadas de professores. Pois não se trata somente de entregar livros para crianças em situação vulnerável. É necessário potencializar o professor. Os livros e as bibliotecas são instrumentos para que o professor esteja cada vez mais preparado e com condições de exercer o seu papel de agente de transformação social.

DDH: Conte um pouco sobre a primeira ação da OMUNGA, que foi o Projeto Escolas do Sertão.

Roberto: A primeira ação da OMUNGA aconteceu em uma das cidades que eu visitava no último ano de período sabático. Se trata da comunidade de Serrinha em Betânia do Piauí. Lembro que depois de conhecer tantas cidades e escolas, me chamou atenção quando perguntei como eu poderia ajudar e eles responderam que só queria livros. Não pediram água, dinheiro, computadores, somente livros.

Biblioteca construída em Betânia do Piauí (PI)

Daí nasceu a ideia de construir a primeira biblioteca. Logo, a cidade vizinha soube do projeto e nos pediu para incluí-la também. Assim, entendemos que o contexto de vulnerabilidade era o mesmo e decidimos aumentar o projeto para a cidade vizinha, Curral Novo do Piauí.

DDH: Além da construção de bibliotecas, vocês também trabalham com os professores. Como a OMUNGA investe na formação continuada de professores?

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Roberto: A formação de professores é uma das partes mais importantes de nosso trabalho. Pois é quando ouvimos os educadores e aprendemos com eles e também com a comunidade. Pois, não realizamos o que eu chamo internamento na OMUNGA de ‘colonialismo educacional”. Atuamos com profundo respeito ao contexto, história, ancestralidade, desejos, opiniões.

OMUNGA atuando na formação de professores

Quando estamos em período de escuta, nos desfazemos de nossos saberes, crenças, opiniões, pré julgamentos etc, para somente ouvir. E depois, com a participação dos professores, criamos nossos objetivos de trabalho que até agora, possuem como foco a formação de leitores e o protagonismo do professor.

DDH: Hoje, alguns anos depois do primeiro projeto, quais são os efeitos que vocês vêem na região? Continuam acompanhando o que foi implantado lá?

Roberto: Nós percebemos que os professores possuem um comportamento mais protagonista. Antes, era comum uma fala enaltecia todas as dificuldades daquelas regiões. Comportamentos vitimistas. Hoje, seja na sala de aula, nos projetos e na própria resolução de problemas, encontramos professores mais protagonistas. Também percebemos crianças com sonhos que vão além das fronteiras do sertão. Como por exemplo, crianças sonhando em ser advogados, engenheiros, médicos e enfermeiros.

DDH: Em 2020 vocês começaram o projeto OMUNGA na Amazônia. Como é esse projeto e de que forma a pandemia o afetou? 

Roberto: O terceiro projeto, OMUNGA na Amazônia, acontece na cidade de Atalaia do Norte, uma das cidades mais longínquas do Brasil, que ocupa o antepenúltimo lugar no Índice de Desenvolvimento Humano Municipal – IDHM. O projeto OMUNGA na Amazônia contemplará uma biblioteca (a cidade não possui biblioteca), distribuição de livros para todas as escolas, formação educativo-cultural continuada para todos os professores do município durante dois anos e a produção de um documentário de média metragem sobre as transformações realizadas pelo projeto.

Equipe OMUNGA com a comunidade de Atalaia do Norte

A pandemia afetou diretamente o projeto, pois as formações de professores e a construção da biblioteca deveriam estar a todo vapor. Agora, acreditamos que retomaremos tudo em 2021. A experiência da covid-19 no time, o monitoramento das regiões beneficiadas e o desejo de ação junto às comunidades beneficiadas pela OMUNGA nos fizeram criar o Projeto Força Tarefa OMUNGA, que tem o objetivo de levantar 10 mil kits de prevenção (álcool líquido e em gel, luvas, máscaras, sabão em pedra e em pó, etc) para serem distribuídos nas regiões distantes e isoladas onde a OMUNGA atua. Para potencializar uma relação com nossa causa, incluímos no kit livros e materiais de colorir.

Além disso, estamos em contato com as Secretarias de Educação para que possamos contribuir com a preparação dos professores. A ideia é fortalecemos para que estejam aptos a receberem os alunos na volta às aulas, depois de um período tão adverso que, provavelmente, potencializou a vulnerabilidade desses alunos. Acreditamos que possam ocorrer formações específicas até o início do ano que vem. Já a entrega dos kits deve acontecer antes, em novembro/20. Marcas como Ambev, Malwee e Transjoi já fazem parte dessa iniciativa.

DDH: E pra tudo isso continuar acontecendo, de onde vêm os recursos? Como as pessoas podem apoiar essa causa?

Roberto: As principais forma de participar dos propósitos da OMUNGA é por meio de doações mensais ou pontuais, compra de produtos que constam em nossa loja virtual, principalmente, camisetas, além de empresas que podem realizam investimentos mensais, como é o caso da Dentro da História e investimentos viabilizados por meio da Lei de Incentivo à Cultura.

DDH: Este ano você participou do programa do Luciano Huck e conquistou 150 mil reais para investir no projeto. Como foi essa experiência?

Equipe OMUNGA no Caldeirão do Huck

Roberto: Está aí algo que não poderíamos imaginar. Muitas coisas boas estavam acontecendo no ano passado e esse convite foi surpreendente. Sentimos um acolhimento muito verdadeiro de toda equipe do Caldeirão. O Luciano se mostrou muito preocupado com nossa causa e ficamos radiantes com o prêmio que deverá ser usado para construção da biblioteca do Projeto OMUNGA na Amazônia e desejo que a OMUNGA seja matéria mais uma vez no Caldeirão do Huck e na mídia nacional. Embora a aparição no programa e o prêmio não sejam méritos somente nossos, mas de todas as pessoas que acreditam em nossa causa e fazem partem assim como a Dentro da História e todas as pessoas que contribuem com a OMUNGA.

Quer saber mais sobre a OMUNGA?


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