Curiosidade infantil e leitura: entrevista com Januária Cristina Alves

“Só pergunta quem quer saber, né?”

Essa e muitas outras perguntas são feitas pelos pequenos leitores no livro infantil personalizado “Perguntas Incríveis”. Escrita por Januária Cristina Alves, vencedora por duas vezes do Prêmio Jabuti de Literatura, a história convida as crianças a embarcar em uma aventura cheia de perguntas instigantes e respostas divertidas que estimulam a curiosidade infantil por meio da leitura.

É difícil encontrar uma família que não tenha ficado sem resposta diante das perguntas feitas pelos pequenos. Se além da dificuldade para responder às crianças, você também já se questionou quantas perguntas seu filho faz por dia, uma pesquisa feita pelo site britânico Littlewoods encontrou a resposta: de acordo com o estudo publicado, as crianças fazem diariamente cerca de 300 perguntas. 

Ainda que “a fase dos porquês” surpreenda muitas famílias, ela é um marco fundamental na infância e proporciona diversos benefícios para o desenvolvimento das crianças.

A curiosidade infantil em cada idade

Segundo a Psicóloga e Pedagoga, Elaine Ortiz, “a curiosidade faz parte da infância e precisa ser incentivada, mesmo quando é expressa por meio de perguntas embaraçosas e difíceis de serem respondidas.

Desde o nascimento, a criança experimenta o seu corpo e as reações que suas ações têm no ambiente. Com isso, vai percebendo que consegue manter contato com seu cuidador e descobre como ‘ganhar’ colo, leite e atenção. Por volta dos dois anos com o desenvolvimento motor e da fala os pequenos conseguem explorar o ambiente, as possibilidades de movimento de seu corpo, bem como compartilhar interesses com as pessoas por meio da fala.

Dos três aos cinco anos, com o desenvolvimento da linguagem e maior compreensão, vem a famosa “fase dos porquês”, onde a criança consegue expressar a curiosidade que ela sempre teve, mas que antes não tinha recursos para perguntar. 

Entre os seis e oito anos, a criança começa a pensar em hipóteses para as coisas que a deixam curiosa. Nessa fase, instigar os pequenos com perguntas e fazer com que a criança construa seu conhecimento é a melhor maneira de ajudar no seu desenvolvimento cognitivo e crítico”, explica Elaine.

Saiba mais sobre a curiosidade infantil e os detalhes da história “Perguntas Incríveis” na entrevista a seguir com a escritora Januária Cristina Alves!

DDH: Em seu novo livro personalizado “Perguntas Incríveis” os pequenos leitores fazem diversos questionamentos aos adultos. Quando criança, você fazia muitas perguntas? Caso se lembre, compartilhe quais eram suas perguntas favoritas.

Januária: Sim, eu adorava perguntar! E responder também! Minha professora de Geografia me deu o apelido de “doutora sabe tudo” porque eu mal perguntava e já respondia! Tinha uma resposta na ponta da língua para tudo! E ainda dizia: “O que eu sei, eu sei, o que não sei eu invento!” Fui uma criança muito curiosa e inventiva, o que eu acho que se refletiu inclusive na minha escolha profissional, já que me tornei jornalista.

DDH: Os livros infantis são recursos incríveis para estimular a imaginação e a criatividade das crianças. Na sua infância, os livros que você lia despertaram sua curiosidade para fazer novas perguntas?

Januária: Sim, sempre. Quando li a coleção dos livros de Monteiro Lobato um mundo de perguntas se abriu pra mim: sobre a mitologia grega, o nosso folclore, a matemática, a língua portuguesa, a história do Brasil e do mundo. Esses livros me levaram às enciclopédias, que era onde a gente pesquisava na época. De tão curiosa que fiquei, comecei a ler enciclopédia! Minha mãe nem acreditava! Mas eu adorava encontrar as respostas para as minhas dúvidas e aprender mais sobre os assuntos que me interessavam naqueles livros.

DDH: Como as perguntas que as crianças fazem as ajudam a descobrir o mundo ao redor delas?

Januária: Quando você pergunta já tem algumas respostas para aquela dúvida. São as hipóteses que construímos sobre tudo o que vemos, sentimentos, pensamos. Por isso, perguntar é um exercício instigante: alimenta a imaginação e aguça a criatividade. Crianças que fazem perguntas são crianças que exercitam seu espírito científico e observador. São leitores críticos do mundo em que vivem.

DDH: Na sua opinião, por que é importante que as famílias estimulem nas crianças o hábito de perguntar?

Januária: As crianças curiosas são mais participativas, pois aprendem a ter voz e vez no contexto no qual estão inseridas. As famílias que estimulam que as crianças façam perguntas valorizam o diálogo, a troca de ideias, a aceitação de opiniões diferentes, exercitam a tolerância e o respeito ao outro. Uma das características mais importantes de serem cultivadas nos dias de hoje.

DDH: Como os adultos podem agir para não acabar limitando a curiosidade das crianças?

Januária: Procurando compreender as razões pelas quais elas estão fazendo aquela pergunta e então, sempre buscar uma resposta possível para a dúvida apresentada. Não precisa ser uma resposta exata e muito menos definitiva. Às vezes responder uma pergunta com outra irá despertar na criança o desejo de ir buscar diferentes visões, mais de uma resposta ou possibilidade de resposta para aquela questão. Esse é um hábito saudável, que começa na infância. A criança precisa sentir que seus questionamentos são legítimos e que ela será ouvida e acolhida em suas dúvidas e angústias. O diálogo é um grande exercício de amadurecimento para adultos e crianças, pois trata-se de aprender a falar e a ouvir. Parece simples, mas nos dias de hoje tem se tornado um grande desafio!

DDH: Na história “Perguntas Incríveis”, a criança também aprende a encontrar suas próprias respostas. Como jornalista e Educomunicadora, de que forma você acredita que as famílias e as escolas podem incentivar as crianças a construírem seu próprio conhecimento de forma mais protagonista?

Januária: Ensinando-as a pesquisar, a buscar as respostas para as suas dúvidas em diferentes fontes. Exercitando com elas o hábito de fazer perguntas, a elaborá-las com atenção, de maneira cuidadosa, pois uma pergunta interessante gera uma resposta da mesma qualidade. Para isso, há que se trabalhar sobre essa elaboração. Aprender a pensar antes de formular a questão também é fundamental. E então, de posse da pergunta, ensiná-las a buscar respostas em lugares diversos, a entrevistar e conversar com pessoas diferentes, exercitando a capacidade de ouvir com atenção e respeito. A construção do conhecimento é tarefa para uma vida, e ela começa desde cedo, na mais tenra idade. Por isso é importante que a escola e as famílias incluam esse exercício em seu cotidiano.  

DDH: Tanto as famílias quanto as crianças vivem em uma sociedade cada vez mais digital. Na sua opinião, o hábito de perguntar, estimulado pela leitura e pela curiosidade, pode preparar os pequenos para conviver com a tecnologia de forma saudável?

Januária: Com certeza! Oferecer diferentes meios e modos de leitura sempre será importante para a formação do comportamento leitor das crianças. Uma criança curiosa e atenta com certeza saberá se mover nos meios digitais com mais elementos e habilidades do que uma criança pouco exposta a diferentes tipos de leitura. A diversidade de experiências ajuda a criança a reconhecer a qualidade dos textos e imagens que ela verá no universo digital, tornando-a uma leitora do mundo mais crítica.

DDH: Como as famílias podem usar o livro “Perguntas Incríveis” para estimular crianças de diferentes idades?

Januária: Incentivando-as a fazer as suas próprias perguntas e a buscar respostas diferentes para aquela questão. Toda criança poderá criar seu próprio livro de perguntas! Será uma brincadeira divertida e fascinante, e o melhor: nunca terá fim!

Estimulando a curiosidade na infância através da leitura

“Os conhecimentos instigados pela curiosidade são os mais significativos. Afinal a curiosidade infantil desperta o desejo da criança em aprender, desenvolvendo sua criatividade e tornando o aprendizado mais prazeroso”, ressalta Elaine Ortiz.

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