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O escritor premiado Tino Freitas fala sobre a importância da fantasia, mediação de leitura e seu novo livro personalizado.
A leitura vai muito além daquilo que um autor prevê ao escrever uma história. O leitor inventa para si novos sentidos, porque ler tem um tanto de fantasia e sempre dá espaço para o olhar de cada um transformar a história em algo único.
O autor Tino Freitas sabe que, apesar de escrever as histórias, não é dono delas. Músico, contador de histórias e mediador de leitura, o escritor se vê como um condutor que leva os leitores para jornadas através da fantasia. Com mais de 20 livros publicados, já recebeu prêmios como o Prêmio Jabuti e o Selo Altamente Recomendável para Crianças, da FNLIJ.
Seu mais recente lançamento é o livro personalizado Que confusão! Perdi meu bicho de estimação, coeditado em parceria pela Dentro da História e a FTD Educação.
Na história, a criança vai para a praia com os pais e durante o longo caminho, para passar o tempo, inventa uma brincadeira com seus brinquedos e sua iguana de estimação. Na imaginação da criança, a iguana desaparece e os amigos precisam ajudar a procurá-la. Durante essa aventura, a criança interage com o livro através de atividades educativas, que potencializam a leitura.
Veja o que o autor compartilhou sobre o novo livro, sua visão sobre a leitura e a importância da fantasia para nossas vidas:
Dentro da História: Conte-nos um pouco sobre você e sua trajetória na Literatura Infantil.
Tino Freitas: Meu primeiro livro “Cadê o Juízo do Menino?” (il. Mariana Massarani, Brinque-Book) foi publicado em 2009, quando eu estava mergulhado nas atividades como mediador de leituras do projeto Roedores de Livros (Ceilândia, DF). Foi lá que nasceu o desejo de emocionar outras pessoas com minhas histórias. O livro ganhou destaque e muitos leitores. Daí pra frente fui transitando entre a música, a mediação de leituras e a escrita. São quase 30 livros publicados no Brasil, alguns com reconhecimento da crítica, e alguns no exterior.
DDH: Como autor, que elementos você mais valoriza em um livro infantil?
Tino: Ao criar algo para o livro ilustrado (o livro para a infância), busco deixar sempre um espaço para um diálogo do texto com a ilustração. Oferecer ao leitor uma percepção maior desse objeto livro que, no caso, prescinde de imagens e texto.
DDH: Além de escrever, você também faz contações de histórias. O que essas experiências te revelam sobre a relação das crianças com a leitura?
Tino: O meu “contar histórias” vem mais da mediação de leitura, ler com o outro, do que a performance de um narrador no palco (o que também faço, com menos frequência). Nessa experiência, a gente ouve muito a criança, partilha com ela suas dúvidas, anseios e também percebemos que não há muitas certezas quando o assunto é “o que esse livro tem a dizer para você”? Dessa forma, entender que a cada leitor é ofertada a oportunidade de interpretar do seu modo, deixamos de ser os donos da história, para sermos um dos condutores. O livro ilustrado passa a ser uma máquina dirigida por um escritor, um ilustrador (demais agentes do livro) e cada um dos leitores que embarcam nessa nau da fantasia.
DDH: O livro “Que confusão, perdi meu bicho de estimação” envolve o leitor em uma jornada cheia de fantasia em busca de seu bichinho perdido. Para você, qual a importância da fantasia na infância?
Tino: Fantasiar é inventar. E tudo o que não é da Natureza foi inventado pelo homem. Em resumo: exercitar a fantasia (com leitura, música, jogos, etc) nos fortalece a musculatura da invencionice. Podemos, quem sabe, inventar um mundo melhor à medida que nos tornamos mais inventivos. Mas não leia por causa disso. A fantasia também pode ser uma forma maravilhosa de viver a realidade de um jeito leve, divertido e acalmar nossos corações quando o mundo nos parece mais difícil.
DDH: A narrativa possui trechos escritos em versos e com rimas. Qual o efeito disso na leitura para as crianças?
Tino: Não sou pedagogo. Minha formação é em Comunicação Social. Não saberia aqui responder a essa questão com precisão. O que posso dizer é que, para mim, a poesia oferece um ritmo mais gostoso à leitura, além de propor uma brincadeira inconsciente, que é a de tentar adivinhar aqui e ali qual a palavra que vai compor a rima. Faço isso quase sempre quando leio quadras.
DDH: Essa foi a primeira história personalizada que você escreveu. Como foi essa experiência?
Tino: É uma forma diferente de escrever. A gente precisa ficar atento aos detalhes que possam equilibrar a história entre todos os possíveis leitores-personagens. Mas é um tanto como quando a gente já sabe andar de bicicleta e seu pai chega com um modelo diferentão, estiloso, que você até desequilibra nas primeiras pedaladas, mas logo logo já consegue trilhar todo um circuito com habilidade.
DDH: Que dica(s) você daria às famílias que vão ler essa história em casa com as crianças?
Tino: Sei que nem todas as famílias (digo, os pais) podem (ou querem) ter um animal de estimação em casa. Mas a partir do livro, podem se divertir na ideia de que há um deles com seu filho-personagem e viver a experiência de um passeio com o Pet-fantasia. E àqueles que já tem seu animal, que possam também fazer desse, o seu livro de estimação. Boas leituras.
Foto por: Andressa Anholete
Escritor, jornalista, contador de histórias e mediador de leitura do projeto Roedores de Livros, no Distrito Federal (premiado em 2011 pela Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil (FNLIJ) como O Melhor Programa de Incentivo à Leitura para Crianças e Jovens). Tem mais de 20 livros publicados. Suas obras caracterizam-se pelo humor, a crítica social e o experimento com o suporte (papel/folha/livro objeto) enquanto importante elemento condutor da narrativa.
Alguns dos seus títulos já receberam importantes prêmios, como o Prêmio Jabuti, o Selo Altamente Recomendável para Crianças, da FNLIJ, além de integrar seleções de destaque nacional (Selo DISTINÇÃO da Cátedra Unesco de Leitura PUC-RIO e Os 30 Melhores Livros do Ano, da Revista Crescer, PNBE, PNAIC e PNLD Literário) e internacional (Catálogo de Bologna).
Veja também: Literatura infantil e o poder das histórias – entrevista com Januária Cristina Alves